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ARTE & DISLEXIA, UMA DUPLA POSSÍVEL

19/03/2021 Nadine Heisler Educação

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Dislexia Quando Arte.  Fonte: Instagram @dislexia_quando_arte. 

 

Projeto reúne artistas com dislexia em diversos domínios da arte durante a 10ª Semana Mundial da Dislexia

Em outubro de 2020, a mais recente edição da Semana Mundial da Dislexia, ocorrida virtualmente em São Paulo, abrigou a 1ª Mostra Dislexia Quando Arte, iniciativa da Domlexia, uma plataforma digital dirigida a pessoas que apresentam transtornos de aprendizagem provocados pela dislexia e, também, a escolas e professores que lidam com a neurodiversidade, em cujo espectro estão o déficit de atenção, a discalculia, a própria dislexia e o transtorno do espectro autista (TEA). 

Só o Brasil conta com mais de 7,8 milhões de disléxicos, isto é, 4% da população com dificuldade de distuinguir e memorizar grupos de letras, consequentemente, comprometendo a leitura. Eles somam 15% dos alunos da rede de ensino pública e particular e respondem por 30% da evasão escolar no país. 

Não bastasse, os portadores desta síndrome neurológica são normalmente subdiagnosticados, ao mesmo tempo reféns de políticas públicas e ações pedagógicas insuficientes, que concorrem para uma percepção social quase sempre equivocada.  

 

O OUTRO LADO DA DISLEXIA

Oficialmente considerada uma disfunção neurológica, a dislexia carrega um estigma desfavorável e superficial. O dicionário Oxford, por exemplo, a define como “situação que traz incômodo, contratempo, adversidade, desarranjo”. 

No entanto, estudos, como o conduzido em Yale, mostram que pessoas disléxicas são dotadas de empatia, curiosidade e capacidade narrativa, têm apurada percepção de espaço e objetos, além de potencial criativo acima da média para a resolução de problemas.

 

“TODOS TEMOS DOM”

É oportuno assinalar que os disléxicos têm respondido por grande número de inovações destes últimos 150 anos. Nesta tribo, figuram artistas, atores, fotógrafos, diretores de arte. Entre os mais renomados, constam Thomas Edson, o inventor da luz elétrica, Tim Berners Lee, o pai da internet, o matemático Alan Turing, responsável pelo primeiro computador. Prova máxima de que os portadores da síndrome disléxica não sofrem de déficit intelectivo e, bem ao contrário, detêm uma inteligência capaz de percepções extraordinárias sobre o mundo que os cerca.

Vale dizer que a configuração mental que dificulta a compreensão fonológica e afeta a memória de curto prazo é a mesma que promove a criatividade que impulsiona o desenvolvimento artístico, dada a incomum capacidade de correlacionar elementos distintos. 

 

1ª MOSTRA DISLEXIA QUANDO ARTE

Há algum tempo, acalentamos o projeto de organizar a Mostra Dislexia Quando Arte. Em outubro de 2020, ele saiu do papel e reuniu 12 artistas de diferentes domínios da arte em torno dos desdobramentos criativos da Dislexia. E para a apresentação dos 12 participantes foi aberto o perfil @dislexia_quando_arte, no Instagram, organizado como uma exposição digital permanente. 

Mostra Digital 2020.   Fonte: Instagram @dislexia_quando_arte. 

 

OS EXPOSITORES E SUAS OBRAS

A mostra digital, com a curadoria de Luisa Trelli, apresenta obras originais de Tony de Marco, Lese Pierre Lima, Amanda Beatriz Hrysyk, Renato Godá, Luciene Bittencourt Kumm, Letícia Novaes Letrux, Paula Gotelip, Felipe Pancas, Marcelo Fernando de Souza, Marina Miyazaki, Adriana Martinez e Bruna Fracascio. 

Nestes artistas, o que traz a falha na leitura e memória ao longo da vida se transforma em olhar que vê outra forma, que cria e transforma. Todos se encontraram numa parceria de vida sem nunca terem se conhecido, graças ao nosso grupo no WhatsApp, ativo até agora. Ele virou um ponto de encontro, com muita troca de experiências. Foi, assim, que todos se uniram como se já se conhecessem, e, nesse 2020 tão diferente, o Zoom fez seu papel de happy hour. Criamos projetos, tivemos devaneios, ficamos amigos.

O lado bom da dislexia tem sido ótimo! Descubra a mostra em @dislexia_quando_arte.

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Entrevista com Nadine Heisler

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Nadine Heisler

Com mais de 25 anos de experiência em educação e treinamento, já trabalhou para grandes corporações, mas seu negócio é empreender em educação! Acredita no empoderamento pelo conhecimento e na melhoria de qualidade de vida pelo encontro de significado no dia a dia. Na sua formação, já passou pela Unicamp, ESPM, Emerson College, School of the Museum of Fine Arts Boston, Penn University e Columbia University. O projeto Domlexia a levou a ser uma das 10 finalistas do Global Impact Challenge Brazil 2017 da Singularity University e a participação no Desafio StartED da Fundanção Lemann e Artemisia. Mãe de 4 filhas, apaixonada por Florianópolis, adora uma casa cheia e conversas interessantes.